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Conhecimento é poder

(Last Updated On: 22 de outubro de 2018)

Sandra Alves

Havia algo como 500 milhões de homo sapiens no ano 1.500, número que experimentou um crescimento sem precedentes desde então, quando alcançamos o preocupante número de 7 bilhões.
Mais impressionante, saltamos de algo como 250 milhões de dólares de valor total dos bens e serviços produzidos em todo o mundo em 1.500 para 60 trilhões de dólares.
Os recursos naturais nunca foram tão exigidos: em 1.500 a humanidade somada consumia 13 trilhões de calorias de energia por dia, valor que saltou para 1,5 quatrilhão hoje. A população aumentou 14 vezes, a produção incríveis 240 vezes e o consumo de energia 115 vezes. 
A tecnologia deu um salto exponencial: o mais modesto dos navios de batalha modernos poderia facilmente afundar todas as esquadras de todas as potências de 1.500; cinco navios de carga poderiam transportar o carregamento de todas as frotas mercantes da época; o mais simples dos aparelhos celulares pode armazenar facilmente cada palavra e número de cada palavra e número escrito daquele momento; e qualquer banco tem mais dinheiro que todos os reinos do mundo pré-moderno.
Nos últimos 500 anos as poucas e pequenas cidades construídas com barro, madeira e palha, com ruas de terra esburacada, tomadas de animais e seus excrementos, lugares escuros e insalubres, transformaram-se nas complexas São Paulo, New York ou Tóquio. A primeira navegação em torno da Terra só ocorreu em 1.522, quando a expedição de Magalhães regressou à Espanha após uma viagem espetacular de 72 mil quilômetros que custou 3 anos e a vida de quase todos os tripulantes, inclusive Magalhães.
Hoje qualquer um pode fazer facilmente a mesma proeza não em 80 dias, como imaginado por Júlio Verne, mas em meras 48 horas, de maneira fácil e segura. Ainda mais incrível, em 500 anos partimos de uma noção tranquila de que Terra, o centro do sistema solar, era plana, para o pouso na Lua em 20 de julho de 1.969. 
Como tudo isso foi possível? Basicamente, os governantes pré-modernos davam dinheiro a filósofos, padres e poetas para que eles legitimassem seu poder e mantivessem a ordem social. Não havia a preocupação em descobrir novos medicamentos, desenvolver novas armas ou estimular o crescimento econômico.

“Nos últimos 5 séculos mais e mais recursos foram destinados à ciência, com base na crença na aptidão de adquirir novas capacidades por meio da pesquisa”
Sandra Alves
Mas nos últimos 5 séculos mais e mais recursos foram destinados à ciência, com base na crença na aptidão de adquirir novas capacidades por meio da pesquisa. O resultado foi a revolução, na qual as instituições políticas e econômicas fornecem os recursos que viabilizam a pesquisa científica, que por sua vez fornece novas capacidades usadas para obter novos recursos, parte dos quais reinvestidos em pesquisas. 
A ciência moderna difere da investigação realizada nas civilizações clássicas por 3 aspectos: 
1. Os pesquisadores modernos admitem tranquilamente que não sabem tudo, que aquilo que sabemos pode se mostrar equivocado à medida que pesquisamos mais. Nenhuma ideia, conceito ou teoria é inquestionável. 
2. Se admitimos que somos ignorantes então devemos buscar novos conhecimentos reunindo observações que são submetidas a ferramentas matemáticas que relacionam essas observações em teorias abrangentes. 
3. As novas teorias científicas não são um fim em si, mas visam adquirir novas capacidades que geram novas tecnologias. 
Assim, a cultura atual tem mostrado muito mais disposição para abraçar a ignorância. Dessa forma as ordens sociais modernas se mantêm coesas pelas crenças, quase religiosas, na tecnologia e métodos de pesquisa científica que substituíram a crença em verdades absolutas. Paradoxalmente, a maioria da população tem dificuldade para digerir a ciência moderna porque sua linguagem matemática é difícil de entender e as suas descobertas muitas vezes contrariam nosso senso comum.
Quantos entendem realmente de mecânica quântica, biologia celular ou macroeconomia? Mesmo assim, prestigiamos a ciência pelos imensos poderes que ela concede. Governantes podem não compreender a física nuclear, mas entendem perfeitamente o estrago que uma bomba nuclear pode fazer. 
Poucos sabem, mas foi Francis Bacon que, em 1.620, quando publicou um manifesto científico intitulado Novum Organum, ou Novo Instrumento, que formulou o famoso axioma “conhecimento é poder”. A real prova do conhecimento não é se ele é verdadeiro, mas se ele nos dá poder. Presume-se que nenhuma teoria é totalmente correta e, portanto, a verdade não pode ser um parâmetro de teste para o conhecimento. O parâmetro real é a sua utilidade; uma teoria que nos permite fazer novas coisas é, sim, conhecimento. 
Não é a ciência que estabelece suas próprias prioridades nem o que será feito de suas descobertas. O que devemos fazer com a atual compreensão da genética? Curar o câncer, criar uma raça de super-homens ou vacas ainda mais produtivas? O viés ideológico ou mesmo religioso do governante é que irá determinar o objetivo de cada descoberta cientifica, pois não há uma razão científica para preferir um uso e não outro. Daí a responsabilidade crucial de bem escolher nossos governantes.
Sandra Cristina Alves é defensora pública do Estado, escritora e escreve exclusivamente neste Blog toda segunda (sandra_cristina_alves@hotmail.com) Conhecimento é poder Conhecimento é poder A população aumentou 14 vezes, a produção incríveis 240 vezes e o consumo de energia 115 vezes

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LINK DA NOTÍCIA:Conhecimento é poder
FONTE: RD NEWS
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