Bruno Felipe / Com informações G1
De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea), o pico de preços de algodão no ano ocorreu no dia 27 de agosto e desde então, o valor do produto entrou em trajetória de queda, mas, ainda assim, está maior do que antes da pandemia.
O preço do algodão está acompanhando a alta de diversos outros produtos do campo, em especial os alimentos como o arroz. A pluma, que é um dos principais itens da indústria de roupas, chegou a valorizar cerca de 20% no fim de agosto. Isso gera preocupações de que, além da alimentação, as roupas fiquem mais caras. Apesar disso, a indústria têxtil afirma que essa alta não deverá chegar forte ao consumidor. Isso porque o impacto da valorização do algodão acabou sendo absorvido pela atividade, afirmou Fernando Pimentel, presidente da associação do setor (Abit).
A indústria acredita que o aumento é passageiro. O motivo é que, como o setor parou durante a pandemia, a retomada é demorada, com muitas empresas querendo comprar algodão ao mesmo tempo, o que também valoriza o produto. Como todo produto de exportação do agronegócio, as chamadas commodities agrícolas, o dólar é o principal motivo. Isso porque as cotações do algodão são definidas na Bolsa de Nova York. Na média histórica, o preço do produto fora do país não está em níveis recordes, está valendo pouco mais de US$ 0,60 por libra-peso – para efeito de comparação, esse índice já chegou a passar de US$ 1,00 anos atrás. Mesmo assim, quando convertemos, o valor fica mais salgado, como mostraram os dados do Cepea. Isso porque, neste ano, a moeda americana já se valorizou mais de 30% frente ao real. E, segundo a indústria, quem acaba recebendo o maior impacto é o primeiro elo da cadeia de manufatura: as fiações. Após sair do campo e passar pelas fiações, o algodão vai ainda para malharias ou tecelagens, que preparam os tecidos para que as confecções façam o acabamento das roupas. Depois disso, as vestimentas vão para as lojas, para, enfim, chegarem ao consumidor. Produtores e indústrias afirmam que não deverá faltar algodão no Brasil. Isso porque, no campo, a safra foi novamente recorde. O país é o quarto maior produtor mundial e o segundo principal exportador. Segundo dados divulgados nesta semana pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o Brasil colheu 2,9 milhões de toneladas da pluma, 5% a mais do que na última safra – é o terceiro recorde seguido da atividade. “A cotonicultura brasileira – das mais produtivas do mundo – passa longe de qualquer risco de escassez, mesmo com a recuperação da indústria em função do reaquecimento do consumo varejista, após as medidas reabertura do comércio nacional, nesta etapa da pandemia”, diz a Abrapa, em nota.A associação estima que, das 2,9 milhões de toneladas, cerca de 750 mil toneladas devem ficar no país para abastecer a “totalidade da demanda” e que o excedente vai seguir para a exportação. De janeiro a agosto deste ano, o setor exportou 1,56 milhão de toneladas (juntando o algodão da safra antiga e da nova), movimentando US$ 1,02 bilhão. A China foi o principal destino. “Em relação ao preço, a suposta alta de que se queixam indústria têxtil e lojistas, se deve à variação cambial do real em relação ao dólar”, afirma a Abrapa, que diz que a rentabilidade do agricultor está em patamares parecidos com os de setembro de 2018. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que o consumo de algodão no país será de 570 mil toneladas. Se confirmadas a previsão de uso interno e vendas ao exterior (1,92 milhão de toneladas), o estoque de passagem, aquele usado na entressafra, ainda será de 1,93 milhão de toneladas. |
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