“Houve uma sobrelevação extraordinária do nível do mar que se somou à entrada de frente fria. Ultimamente, as frentes frias seguem a tendência de virem do mar, provocando ventos em direção ao continente. Esses fatores fazem com que na boca da Baía entre uma quantidade grande de água limpa, promovendo uma renovação no seu interior. Por isso, isso essa transparência em praias como a do Flamengo e de Icaraí, em Niterói, que mostra a força que a natureza tem na recuperação dos ecossistemas costeiros.
A quarentena nada tem a ver com isso. O que ela faz é permitir a reflexão diante desse fenômeno: se fizermos a nossa parte, se poluirmos menos, podemos ter praias assim, maravilhosas“, disse o oceanógrafo David Zee, professor da Uerj.
Ainda segundo o oceanógrafo, o esgoto e o lixo são os principais causadores da poluição nas praias e, caso chovesse forte, havia risco de a água do mar voltar a ficar turva por causa da sujeira que chega à Baía pelos rios e canais.
Sem Relação com o Isolamento Social
Claudia Hamache, outra oceanógrafa da Uerj, disse:
“Estamos em dias sem chuvas, com aporte menor de sujeira vindo para o mar. E isso se associa ao período de maré bem alta, que está trazendo água bem limpa de fora da Baía de Guanabara. As fotos que temos visto foram tiradas com a maré enchendo, quando há menos lixo“, disse Claudia.
O Artigo Publicado pelo Site “Brasil de Fato RJ”
No dia 11 de maio, cerca de uma semana atrás, um site chamado “Brasil de Fato” publicou um artigo questionando se as águas claras da Baía de Guanabara tinham sido ou não efeito da quarentena (arquivo). Nesse sentido, o site consultou o ecologista Sérgio Ricardo, um dos fundadores do Movimento Baía Viva. Embora ele tenha até tenha citado uma redução do fluxo industrial, ele novamente citou a maré de sizígia.
“Esse fenômeno ocorre de 15 em 15 dias. Nele, a baía passa por um processo interno de ‘autodepuração’, ‘autolavagem’: entram bilhões de litros de água do mar e circulam a oeste e a leste até chegar ao arquipélago de Paquetá que serve como uma espécie de alavanca para empurrar para o alto mar grande parte dos poluentes, lixo, esgoto e óleo“, explicou.
De acordo com Sérgio Ricardo, o fenômeno da hidrodinâmica não ocorre mais vezes ao ano por conta do desmatamento e dos grandes aterros que ocuparam a Baía de Guanabara, que causaram uma perda de 80 km de extensão de espelho d´água no passado.
Consultamos a AMAB (Associação dos Moradores e Amigos de Botafogo)
Entramos em contato com a AMAB — Associação dos Moradores e Amigos de Botafogo — para saber o que eles estavam achando de toda essa história. Afinal de contas, nada melhor do que aqueles que moram na Praia de Botafogo, e lidam diariamente com os seus problemas, para nos dizer o que anda acontecendo por lá.
Em resposta, Regina Chiaradia, presidente da AMAB, disse não acreditar que a cristalinidade da água tivesse a ver com a questão da quarentena.
“A poluição da Praia de Botafogo é essencialmente dos esgotos domésticos, tem a ver com chuvas e com a abertura ou não das duas comportas dos rios Bercó e Banana Podre instaladas na praia“
De acordo com o site “AECweb”, obras de saneamento na Baía de Guanabara, visando sua despoluição, devem ser concluídas até 2023. Assim sendo, aproveitamos e perguntamos também sobre o lendário projeto de despoluição da Baía de Guanabara, que foi concebido lá na década de 90, e que se arrasta até hoje. Contudo, Regina nos disse que não vê mais nada sendo feito sobre esse assunto.
Na manhã hoje (19), Regina Chiaradia, presidente da AMAB, nos enviou uma foto denunciando a abertura das duas comportas dos rios Bercó e Banana Podre. Segundo Regina, essa abertura ocorreu ontem (18). Assim sendo, a foto mostra claramente uma triste realidade que acontece, periodicamente, na praia de Botafogo.
Confira a foto, abaixo:
|
Adicionar comentário