O último caso da doença por aqui foi em 1989. Em 1994, a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou a erradicação da doença no Brasil.
Nos últimos dez anos, a cobertura vacinal da poliomielite caiu de 96,5% (2012) para 61,3% (2021), um dado que acende o sinal de alerta, especialmente no momento em que a doença é detectada em alguns países.
Dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DataSUS, mostram que, até Sexta-feira (12/8), o patamar de crianças vacinadas contra a pólio – uma doença grave e sem cura – não chegava nem a 50%.
“É importante contextualizar que, no passado, a pólio era uma doença extremamente grave, matava as pessoas, deixava as crianças com paralisias e sequelas para o resto da vida”, lembra o pediatra, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações – SBIm e da Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP , Renato Kfouri.
Mas, seguiu endêmica – com surtos frequentes – no Paquistão e no Afeganistão, na Ásia. Neste ano, já foram encontradas amostras do vírus nos esgotos de Nova York, nos Estados Unidos, e de Londres, no Reino Unido.
Além isso, Israel e Malawi, na África, confirmaram casos da doença. A infectologista e consultora de vacinas do Delboni Medicina Diagnóstica, do grupo Dasa, chama atenção para a circulação do vírus.
“Vivemos no mundo de uma forma globalizada e, quando menos esperamos, podemos ter a reintrodução de um vírus que não circulava aqui no Brasil”, ressalta. Pouca vigilância epidemiológica e ambiental. Em 2021, a Organização Mundial da Saúde – OMS colocou o Brasil ao lado do Haiti e da Venezuela como um país de grande risco da reintrodução da doença.
Além da baixa cobertura vacinal, a explicação para estarmos na mesma condição de vizinhos menos desenvolvidos passa pela falta de vigilância ambiental e epidemiológica. “O Brasil tem uma baixa vigilância ambiental, tem uma baixa vigilância de paralisias flácidas e baixa cobertura vacinal. É um convite para a gente ter pólio aqui, demorar para reconhecer, e ela já estar alastrada”, destaca Kfouri.
A vigilância ambiental, a qual o médico se refere, é justamente feita a partir da coleta e análise de amostras de esgoto, em que é possível detectar o vírus e atestar a circulação dele em uma comunidade.
A infectologista concorda e completa: “O grande problema da poliomielite, como ela circula de uma forma que as pessoas não conseguem reconhecer facilmente, pode atingir alguém que não recebeu a vacina, e ela pode ter a doença na forma paralítica e ficar sequelada para o resto da vida”, pontua Maria Isabel.
O que é a poliomielite?
A poliomielite é uma doença causada por enterovírus, infecta inicialmente a nasofaringe, leva a um quadro de infecção intestinal e, na maioria das vezes a recuperação, é rápida. Menos de 1% dos infectados terá as formas mais graves, chamadas de paralítica.
Nela, o vírus acomete a musculatura, em geral de membros inferiores de um lado só, e a pessoa ficar com sequela para o resto da vida.
“É preocupante a possibilidade de termos pessoas que não tomaram a vacina, em um esquema que é tranquilo, seguro e podem ter uma doença que vai deixá-las com um problema sério para o resto da vida”, afirma a infectologista.
Por que as pessoas deixaram de vacinar as crianças? Os motivos da queda da adesão às vacinas, principalmente em um país do tamanho do Brasil são muitos e é possível ver a diferença de comportamento com os dados do DataSUS. Por exemplo, em 2021, a região Norte teve cobertura a menor cobertura: 53%.
Em seguida, aparecem Nordeste (54,5%), Sudeste (63,8%), Centro-Oeste (65,8%) e Sul (72,2%).
“São várias causas em várias diferentes localidades, mas como pano de fundo de tudo isso, como causa comum a todos os locais, existe a baixa percepção de risco. As vacinas fazem sucesso porque eliminam as doenças, e as pessoas já não se sentem ameaçadas. É percepção do risco que nos move em direção à prevenção”, explica Kfouri. A infectologista Maria Isabel completa: “Não temos muitos casos de doenças, as pessoas não têm medo do que não veem.”
A comunicação sobre a doença e a disponibilidade de vacinas no SUS são fundamentais para fazer com que o Brasil atinja novamente índices ideias de imunização contra a pólio – superiores a 90% de adesão. “Precisamos continuar motivando e explicando a vacinação mesmo sem as pessoas conviverem com a doença. Isso também vale para o profissional da saúde. Os jovens profissionais que também não tratam, não cuidam, também não recomendam de maneira enfática, como recomendávamos há décadas, que cobrávamos o calendário em dia”, salienta Kfouri.
Campanha Nacional de Vacinação
O país está em meio a uma campanha de vacinação contra a doença que vai até o dia 9 de Setembro. Para ser considerada imunizada, uma criança precisa receber cinco doses da vacina, sendo três no primeiro ano, uma com 1 ano e três meses e reforço aos quatro anos.
Além da pólio, estão sendo oferecidos todos os imunizantes que fazem parte do calendário nacional do Plano Nacional de Imunizações – PNI, para crianças e adolescentes de zero a 15 anos.
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