O Atlas Temático da Migração Refugiada em São Paulo aponta que 55% das mulheres refugiadas não têm ocupação no mercado de trabalho ou estão em empregos precários. Considerando homens e mulheres, o percentual é 38%. Os dados fazem parte da publicação da Universidade de Campinas (Unicamp) lançada hoje (19) em homenagem ao Dia Mundial do Refugiado, 20 de junho.
De acordo com Rosana Baeninger, cientista social da Unicamp e uma das autoras do atlas, muitos dos refugiados não terminaram os estudos e faltam empregos para alocar essa população. “Como já tem uma desigualdade de gênero na questão das mulheres, vai sobrepondo particularidades da migração refugiada na migração de mulheres”.
“Estou fazendo outra faculdade no Brasil, de Gestão de Recursos Humanos. Agora, faço estágio. Eu não penso em voltar para Moçambique, penso em ter filhos aqui, é o meu sonho. Poder viver tranquila, sem medo, sem preconceito. Agora, quero formar uma família”, disse.
Segundo o Atlas, o estado de São Paulo teve, entre 2016 a 2018, 176 casos de pedidos de revalidação de diplomas do ensino superior, sendo que 51 ainda estão em andamento, 20 foram deferidos e 10 indeferidos.
Números
No estado de São Paulo, existem 2,5 mil novos refugiados reconhecidos, segundo informações do atlas que foram colhidas na base do Registro Nacional de Estrangeiros, nos postos de controle da Polícia Federal, entre 2000 e 2015, além registros de entidades parceiras. São grupos de 71 nacionalidades diferentes, que acabaram escolhendo 86 municípios paulistas.
A maioria das origens são asiáticos, especialmente sírios, e africanos. Rosana esclarece que os refugiados buscam o interior do estado por causa das oportunidades de emprego no agronegócio e na indústria. “Ter a documentação [de refugiado] também ajuda a ir para o interior, assim como as redes sociais, redes de solidariedade”.
No Brasil, são 5.352 refugiados novos entre 2000 e 2016. Os principais países de origem são Síria, com 2,9 mil pessoas, Colômbia, 1,2 mil, Angola que teve 1,6 refugiados e Congo, com 1,3 pessoas. A partir de 2013, houve aumento expressivo de sírios.
Mobilidade interna
O levantamento aponta que São Paulo e Rio de Janeiro são as unidades da federação que mais recepcionam os refugiados, mas, posteriormente, eles se espalham pelo país. Essa constatação deve ser levada em conta pelos governos, na opinião da estudiosa. “As políticas sociais têm que chegar em municipalidades que não necessariamente tem histórico de recebimento”, avalia.
Outra conclusão do estudo é que o Brasil vem se tornando um país de trânsito migratório, ou seja, os refugiados fogem para cá, mas acabam se deslocando posteriormente para outra nação. Em 2017, foram 800 entradas nessas condições e 1,5 mil saídas, sendo 60% delas pelo aeroporto de Guarulhos. Com a crise no Haiti, o número de solicitantes de refúgio foi expressivo no ano passado, 49 mil entradas (sendo 83% de haitianos) e 6,5 mil saídas.
Exemplo do Canadá
O Canadá, país considerado líder global no reassentamento de refugiados, recebeu mais de 40 mil sírios desde 2015. No país, os refugiados recebem de um a dois anos de apoio financeiro, plano de saúde, treinamento de idiomas e assistência com oportunidades de empregos. O país investe mais de 1 bilhão de dólares ao ano para ajuda com refugiados.
Jammes Mc Namee, cônsul do setor de vistos e imigração do Canadá, lembra que é fundamental o apoio da população. Segundo ele, os filhos dos refugiados recebidos atingem índice de formação educativa mais alta que os canadenses nativos. “Essa é a formula que queremos exportar, a segunda geração sempre vai para frente, tem muito sucesso. O Canadá se sente muito feliz desse sucesso tão grande”, disse.
Márcio Fernandes Elias Rosa, secretário estadual de Justiça e Defesa da Cidadania, disse que o governo estadual cumpre o compromisso com a definição de políticas públicas para pessoas em situação de refúgio, que constará de um plano estadual em decreto que será publicado em breve. “São Paulo se caracteriza pela boa convivência, acolhimento e desejo sincero de recebimento daqueles que passam a viver aqui”, disse.
Edição: Valéria Aguiar
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LINK DA NOTÍCIA:Maioria de mulheres refugiadas está fora do mercado de trabalho em SP
FONTE: CENÁRIO MATO GROSSO
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